Sabe quando você se empolga com um projeto desde a sua primeira proposta? Quando começa a esboçar tudo, fazer os planejamentos, sentar horas a fio e tentar entender o que pode ser feito, como se pode abordar tal elemento… e quando o trabalho é finalizado, você ainda não consegue controlar a sua felicidade toda vez que o vê ou se lembra dele, e que foi você quem o concebeu?
Pois então, assim que eu me sinto toda vez que eu falo de Compota de Pêssego, que é o meu segundo conto, mas o primeiro com personagens com nome, com personalidade, e a primeira vez que eu escrevi algo autoral que fosse um romance entre dois meninos.
A realidade é que todo texto que eu escrevo é a primeira vez que eu escrevo um texto, e com o meu segundo filho não foi diferente.
Compota é um romance água com açúcar, entre dois vizinhos que são amigos de infância, Joaquim Bezerra Santos das Neves, um menino que sente coisas pelo melhor amigo e nunca teve coragem de o contar, e José Dias, o melhor amigo que sente o mesmo e que decidiu se arriscar e dar o primeiro passo.
O que mais me fascina relendo esta história, mesmo depois de dois anos de publicação, é que ela é simplesmente linda e natural, e não estou tecendo elogios à minha escrita, me chamando de magistral ou coisa semelhante. O que me fascina é que o Enrike que escreveu Compota de Pêssego sabia exatamente o que estava querendo construir: uma história real, entre pessoas reais, em um mundo real.
É um autêntico clichê de história de adolescente, se passa em uma cidade sem nome do interior do Brasil, e é sobre o primeiro amor, mas também é sobre o carinho e o afeto entre vizinhos, é um garoto que tem uma família grande, com pai e mãe, mas que também é filho de vó, enquanto que o seu melhor amigo é filho único de mãe solteira. É sobre uma gata que tem muita personalidade e que é conhecida por isso, é sobre garotos fazendo coisas idiotas por serem garotos… de certa forma, é sobre a vida real. O conto não é nada extraordinário, ele é bem ordinário na real, e digo ordinário como sendo da ordem do comum, do já visto, já falado, já escrito, já trabalhado, já feito.
Mas é por isso que eu gosto tanto desse conto, ele não parece um conto e sim um amigo meu me contando como foi o dia ou contando uma fofoca. É simples e é isso que me faz com que eu me apaixone e reapaixone toda santa vez que lembro de José dando um selinho em Joaquim e mais tarde perguntando para Joaquim, e eu fiz isso de propósito quando escrevi, “se alguém te rouba um beijo… como faria para retribuir?”, tal qual Gabriel perguntando para Leo em Hoje eu quero voltar sozinho.