hora de contar logo tudo

Lembra quando eu disse que um bruxinho chegou na minha vida, que me fez repensar toda a minha trajetória e o que eu queria com minha escrita? Pois é, acontece que a chegada dele me fez eu me distanciar de um perito forense incrível: Oscar.
Bem, o nome do livro é Tudo que não contei, e chegou a hora de eu, Enrike, contar tudo de uma vez.
Se você está lendo isto, talvez você tenha curiosidade em saber sobre o livro, talvez já o tenha lido, ou simplesmente está se perguntando por que, na data de postagem deste artigo (24/05/2024), o livro saiu da Amazon e da Uiclap. A resposta é que o Oscar e eu precisamos de um tempo juntos.
Eu me lembro bem de fuçar a Amazon e o skoob constantemente em busca de avaliações de leitores, e foi aí que eu recebi a minha primeira resenha. À época, eu era completamente imaturo e não soube lidar com o que era uma crítica, lembro que foi uma das coisas que mais me deixou mal foi ter lido. Como assim a pessoa não entendeu tal coisa? É muito óbvio! Mas foi aí que eu me dei de conta com o seguinte: o leitor não tem o mesmo relacionamento com o texto que o autor.
Lembro que o que mais ficou marcado em mim foi ter falado que a minha escrita era muito amadora por conta da forma com a qual eu escrevi o texto. Pasme, foi o meu primeiro livro publicado, obviamente eu não sei tudo que eu sei hoje em dia sobre escrita, eu mudei muito de lá para cá — até o sobrenome eu tirei —, mas isso é o que eu falo olhando para o passado e sabendo o que eu sei hoje, porque se eu for só olhar o passado eu só fiquei muito desestimulado. Jurei a mim mesmo que nas próximas empreitadas eu iria fazer melhor, seguir a risca o que falaram que me fez falta, evitar os mesmos erros e… perder completamente meu estilo e me tornar um escritor medíocre que busca se encaixar num estilo de escrita pseudoclássico apenas para ser comercial o bastante.
A maior praga, na minha vida, foi não ter tido confiança no Oscar, e nem em mim.
Hoje, eu vejo Oscar e percebo que ele não merecia ter passado por esse afastamento todo, ele é o meu primeiro filho, meu primogênito, e se hoje em dia eu tenho outros personagens, outras sagas e histórias, publicadas ou não, é porque o Oscar veio primeiro e muito devo a ele.
E sobre a resenha, depois eu fui dar uma pesquisada mais a fundo no umbral e me deparei que eu fui burro o bastante de cadastrar o livro lá, bem, pelo menos eu já sei que ali eu não vou conseguir achar leitores que queiram conhecer e se apaixonar pelo Oscar da forma que ele merece.
Outros motivos são que, para mim, aquela escrita confusa e casos criminais estapafúrdios do que originalmente é uma novela, ainda representa muito bem o projeto, mas saber que eu tenho que colocar avisos, pedindo que o leitor entenda que os personagens são pessoas complexas e complicadas, pedindo que entendam as nuances e que crimes de ódio não resolvidos existem desde sempre… pedir, pedir, pedir e pedir mais uma vez ao leitor… isso não é dever meu. Eu não posso simplesmente pegar na mão do leitor e ensiná-lo como funcionam acordos de cooperação de agências de inteligência, como que funciona imigração, que pessoas não falam como nos livros e que nós somos repetitivos, explicar que crimes de ódio solucionados com os atuantes presos só acontece em um mundo ideal.
Nós vivemos num país em que o símbolo da homofobia se tornou uma lampadada na cabeça de um homem heterossexual porque ele parecia viado. Oscar é paraguayo, ele vem de um país que em sua constituição estabelece que o casamento é apenas entre homem e mulher. O que eu ganho querendo confortar um leitor quando eu posso escancarar a realidade? Mostrar que ficção não é apenas escapismo e que a justiça sempre vai falhar para nós, porque ela não foi feita para nós.
Ensinar o leitor estas questões e questões como a identidade do Oscar enquanto paraguayo e gay não é algo que seja capaz de um leitor brasileiro entender, mas cobram que o autor explique, que ensine, que seja didático do porque ele tomou cada decisão que tomou, como se escrever fosse uma fórmula fechada.
Eu não vou ensinar porra nenhuma para o meu leitor, eu quero que o meu leitor sente, conheça a história e se interesse a procurar os paralelos com o mundo real, que procure as referências, que seja autônomo, mas aparentemente isso é pedir demais do leitor. Nós não podemos subestimar quem nos lê, jamais, mas também tem sido impossível viver em um mundo onde nossa capacidade de escrever é subestimada cada vez mais.
E por conta disso tudo, Oscar saiu de férias, por um tempo indeterminado, mas em breve ele retorna com a mesma história, mas agora com mais páginas e uma conclusão que não termine com um gancho no final.
Jajohechapeve Oscar, añua mbarete, che ra’y — não me peça para explicar a frase em guarani, para dar aula de língua estrangeira eu cobro.
 
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