sobre os escritos do enrike

Pode parecer que não, mas escrever coisas mais levinhas é uma paixão minha muito forte — tanto quanto os impulsos homossexuais extremamente latentes, noticiados em diversos tuítes —, e eu meio que comecei a minha jornada por algo anterior aos contos: fanfics e au’s.
Desde que eu me lembre, o que em tão pouca muita vida é em torno dos oito anos de idade, eu sempre começava a escrever alguma coisa e depois abandonava, até eu conhecer a grandiosíssima droga, no sentido de vício, que foi o Wattpad em 2013. Foi revolucionário para uma criança de nove anos saber que eu também poderia escrever uma história e publica-la para que todo mundo pudesse ver… sonhos áureos de uma época longínqua que nunca voltará (com a graça de todos os Deuses, demônios e demais entidades).
Bem, os interesses foram mudando ao longo dos anos, houve uma época da minha vida que eu não queria saber de nada e praticamente abandonei a leitura junto. Foram anos sem ter um contato mais próximo dos livros, e isso só reacendeu em 2019, no primeiro ano do ensino médio, coisa que se você parar para pensar não faz tanto tempo atrás — só cinco anos —, e com isso memórias que antes estavam presas foram reavivadas com a leitura: vou fazer fanfic, nada sério.
Em 2020 veio a pandemia, com ela ficar em casa e reassistir as reprises de Grachi e Club 57 na Nickelodeon, reencontrar na internet séries dos anos 2000 e 2010 que eu acompanhava, e ainda por cima interagir com pessoas que também assistiam na época… isso foi meio que um alívio para a minha mente perturbada, finalmente eu senti um senso de comunidade, que eu pertencia a algo e isso era muito bom. Comecei a fanficar, Club 57 era a produção mais recente da Nickelodeon e eu me reservei ao direito de fazer histórias sobre o universo, o que poderiam ser apenas teorias de fãs na realidade me divertiam por horas, eu apenas me jogava de cabeça e matutava sobre.
Foi nessa mesma época que eu conheci o que era uma au (de twitter, pelo menos), e meus amigos… por que eu fui inventar de fazer? Eu realmente não sei, mas sei que eu me divertia ainda mais escrevendo e perdendo meu tempo fazendo tuítes e conversas falsas para postar para ninguém ler. Hoje em dia isso está perdido nos confins da minha conta do twitter.
Quando veio 2022, eu comecei a desenvolver meu primeiro projeto “grande”: os demônios italianos, que até hoje não está pronto. Ao longo disso, veio meu box de Sherlock Holmes da Harper, e com isso aquelas fanfics que todo leitor de Sherlock passa: ele e Watson são um casal.
Foi também a época em que eu acabei o ensino médio, último semestre do IF, e eu abandonei o primeiro projeto da minha vida para sentar e escrever sobre o que era, de certa forma, meu vínculo afetivo com a escola, porque eram os livros que andavam comigo para cima e para baixo naquele campus. Foi daí que o Oscar nasceu, num constante contato com Sherlock e com meu lado paraguayo, porque foi nessa época que eu me entendi enquanto sujeito — papo mó decolonial, mas não é sobre isso não… —, e porque não um Sherlock Holmes que fosse jovem, de família de imigrantes paraguayos e, ainda por cima, viado e esquisito? Pode parecer um self insert muito egóico, mas não era essa a minha intenção.
Mas antes de publicar Tudo que não contei, eu precisava preparar meu terreno — na época que eu jurava que dava para montar uma carreira enquanto autor e viver de escrita, eu genuinamente me importava com o mercado literário, ingênuo era eu — e foi aí que nasceram meus primeiros contos, foi aí que nasceu o coletivo e a nossa antologia, enfim… foi preparando o terreno que na virada de ano eu publiquei Tudo que não contei na Amazon e, dias depois, a versão física na Uiclap (e ainda tinham dois capítulos extras no livro físico).
Cadastrei no maior umbral que é o skoob, fiz vídeo de jaleco falando do livro e os dias se passaram, e eu cada vez mais animado, lendo novos autores (sempre nacionais e indie), continuava escrevendo e foi aí que eu comecei a sentir um desânimo completo enquanto autor que é o fatídico “não sou bom o suficiente”, e então veio A nova vida de Lúcifer como um desafio de postar minicontos na quaresma que, no final, se conectassem como se fosse uma história única…
Depois, vieram as poesias mais importantes de minha vida, minhas poesias noturnas. Aí veio um bruxinho muito querido me atazanar, O Bruxo da Clareira, que eu pensava ser apenas uma menor parte de um projeto maior meu, As Ruínas da Ilha Ëvar, mas acabou se tornando tão querido por mim que eu precisava falar dele e precisava que todos conhecessem ele.
Do jeito que Hufïr e Hanvar entraram em minha vida, eles trouxeram uma epifania imensa, e eu não parei desde então. Revi o meu projeto inteiro enquanto autor e cheguei a seguinte conclusão: foda-se o mercado editorial, foda-se o que está em tendência, foda-se a escrita comercial e foda-se a escrita da arte pela arte.
Eu já não me importo mais em cair no ostracismo e ser autor indie a minha vida inteira, não é como se a maioria dos autores fossem reconhecidos pelo seu trabalho enquanto vivos. Ser escritor é desafiador, e certamente não existem escritores profissionais vivos, apenas mortos — e não me venham citar Barthes que eu lhe cito minha mão no meio da sua cara.
No final do dia, o Enrike é só o autor, ainda tem o Henrique, o professor, ou o Henrique, o tradutor, ou o MOSCIARO, H., o pesquisador, ou apenas o enrike, o viado brasiguayo que faz letras e reclama de tudo no twitter.
Escrever é uma paixão, mas certamente não é uma paixão única, e eu fico feliz de saber que tem gente que compartilha desta e de outras paixões minhas.
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